Seus amigos podem lhe trazer saúde, riqueza e felicidade - ou
tirar tudo isso de você. Veja por que eles são ainda mais importantes do
que você imagina.
Em
1937, na Universidade Harvard, começou o maior estudo já realizado
sobre a saúde humana. O projeto, que continua até hoje, acompanha
milhares de pessoas. Voluntários de todas as idades e perfis, que têm
sua vida analisada e passam por entrevistas e exames periódicos que
tentam responder à pergunta "o que faz uma pessoa ser saudável?" A
conclusão é surpreendente. O fator que mais influi no nível de saúde das
pessoas não é a riqueza, a genética, a rotina nem a alimentação. São os
amigos. "A única coisa que realmente importa é a sua aptidão social -
as suas relações com outras pes-soas", diz o psiquiatra George Valliant,
coordenador do estudo há 30 anos. Os amigos são o principal indicador
de bem-estar na vida de alguém. Ter laços fortes de
amizade
aumenta nossa vida em até 10 anos e previne uma série de doenças.
Pessoas com mais de 70 anos têm 22% mais chance de chegar aos 80 se
mantiverem relações de
amizade
fortes e ativas - e ter amigos ajuda mais nisso do que ter contato com
familiares. Existe até uma quantidade mínima de amigos para que você
fique menos vulnerável a doenças, segundo pesquisadores da Universidade
Duke. Quatro. Gente com menos de 4 amigos tem risco dobrado de doenças
cardíacas. Isso acontece porque a ocitocina - lembra-se dela? -, aquele
hormônio que estimula as interações entre as pessoas, age no corpo como
um oposto da adrenalina. Enquanto a adrenalina aumenta o nível de
estresse, a ocitocina reduz os batimentos cardíacos e a pressão
sanguínea, o que diminui a probabilidade de ataques cardíacos e
derrames. E pesquisas feitas nos EUA constataram que a ocitocina também
aumenta os níveis no sangue de interleucina, componente do sistema
imunológico que combate as infecções.
Além de ser fundamental
para o bem-estar mental, ter amigos também faz bem ao coração e ao
corpo. Mas, se as amizades forem novas, é ainda melhor. A ocitocina dá o
impulso inicial às relações e, depois de algum tempo, cede o lugar para
o sistema da memória, que age mais rápido. Há estudos comprovando que
amigos antigos não estimulam a liberação de ocitocina (a não ser quando
você os reencontra depois de muito tempo longe). Por isso, tão
importante quanto ter amigos do peito é fazer novas amizades durante
toda a vida. Mas você já reparou que, conforme vai envelhecendo, fica
mais difícil fazer novos amigos - e as amizades antigas parecem muito
mais fortes? Existe uma possível explicação para isso. Há mais ocitocina
no organismo durante a juventude, o que facilita a criação de relações
mais profundas. Isso e o convívio, claro. Durante a adolescência,
passamos quase 30% do nosso tempo com amigos. A partir daí, a vida vai
mudando, novas obrigações vão surgindo - até que passamos a dedicar
menos de 10% do tempo aos amigos. Se você acha que isso é uma coisa
ruim, acertou. Uma
pesquisa
da Universidade de Princeton revelou que as pessoas consideram seu
tempo com amigos mais agradável e importante do que o tempo gasto com
sua família. Nós trocamos os amigos pelo trabalho, para ganhar mais
dinheiro. Mas não deve-ríamos fazer isso. Não vale a pena. O dinheiro
que você ganha no trabalho, durante o tempo em que não está com os
amigos, tampouco compensa a falta deles.
Quer dizer, mais ou
menos. O economista Andrew Oswald, da Universidade de Warwick, criou uma
fórmula para calcular quanto dinheiro seria preciso ter para compensar a
falta de amigos. Numa
pesquisa com voluntários, Oswald descobriu que as pessoas se consideram mais felizes quando ganham aumento de salário ou fazem um novo
amigo. Até aí, nada de novo. Mas ele resolveu cruzar as duas informações e chegou a uma conclusão: ganhar um
amigo
equivale a receber R$ 134 mil a mais de salário anual. Peça isso de
aumento na próxima vez em que você tiver de fazer hora extra e não puder
ir encontrar seus amigos no bar. Ou, então, faça mais amigos no próprio
trabalho. Sim, esse tipo de
amizade existe e também é superimportante. Quem tem um
amigo
no trabalho se sente 7 vezes mais envolvido com o que faz, 50% mais
satisfeito e até duas vezes mais contente com o pagamento que recebe.
Pessoas que possuem 3 ou mais amigos no trabalho têm 96% mais chance de
estar satisfeitas com a vida (redação da SUPER, aquele abraço).
Mas
só 18% das pessoas trabalham em empresas que estimulam o
desenvolvimento de amizades - com áreas de convivência adequadas para
que as pessoas se aproximem. Pode parecer um detalhe, mas não é. Um mero
café ou refeitório aumenta em 300% as chances de fazer amigos no
trabalho. "O problema é quando a interação entre os funcionários se
limita a falar mal do chefe", diz o psicólogo Tom Rath, do Instituto
Gallup.
Passa e repassa
Durante 55 anos,
53 mil pessoas de uma cidadezinha em Massachusetts foram monitoradas
pelo governo dos EUA. A ideia era medir os índices de arteriosclerose
entre os participantes. O monitoramento tinha dados como quem se casou,
se separou, mudou de endereço, quem eram seus melhores amigos, quem
parou de fumar, engordou ou perdeu peso, quem dizia estar feliz ou
triste. Com a ajuda desse projeto, os sociólogos Nicholas Christakis e
James Fowler perceberam que vários dos principais comportamentos humanos
se espalham pelas nossas redes como se fossem vírus, tendo os amigos
como transmissores. Quando uma pessoa se torna obesa, seus amigos têm
45% mais risco de engordar. Amigos de amigos também podem ser afetados.
Uma pessoa tem até 20% mais probabilidade de ficar obesa se um
amigo do seu
amigo ficar, e 10% de risco se isso acontecer com o
amigo de um
amigo de um
amigo.
O
mais interessante é que, se sua mulher ou seu marido se tornar obeso,
por exemplo, o seu risco de seguir o mesmo caminho aumenta somente 37%.
Ou seja: os amigos têm mais poder sobre as suas atitudes do que qualquer
outra pessoa. E isso vale para vários aspectos da sua vida (veja no
infográfico). A explicação disso está nos chamados neurônios-espelho,
que simulam automaticamente uma ação na nossa cabeça quando vemos alguém
executá-la. Nós imitamos inconscientemente alguns gestos e atitudes das
pessoas ao nosso redor. Ok, mas os neurônios-espelho também são
acionados quando estamos com nossos parentes ou cônjuges. Por que,
afinal, os amigos têm mais
influência sobre nós?
A
ciência
ainda não sabe. Mas uma possível explicação é que, como os homens
primitivos precisavam fazer alianças para trabalhar juntos na produção
de alimentos, e comer é uma necessidade urgente (sem alimento, você e
sua família morrem), a
amizade tenha sido classificada como prioridade absoluta pelo cérebro - o que perdura até hoje.
Se
isso significa que os amigos trazem felicidade, também podem aumentar
suas chances de entrar em depressão. Sabe aquelas pessoas que estão
sempre mal, reclamando, e parecem sugar a energia das pessoas em volta?
Cada
amigo
triste, segundo as equações de Christakis e Fowler, coloca você 7% mais
para baixo. Mas a felicidade, felizmente, é muito mais potente: ter um
amigo contente aumenta a sua chance de ficar feliz em 15,3% - e, a partir dele, cada pessoa alegre contribui com mais 9,8%.
Agora
você entende para que servem, afinal, aqueles colegas do primário que
você raramente ou nunca vê - mas insiste em manter na agenda. Ter uma
rede social extensa, mesmo que nem todas as relações sejam profundas,
provavelmente fará você mais feliz do que ter um grupo pequeno de amigos
do peito. E isso ajuda a explicar as transformações profundas pelas
quais a
amizade tem passado nos últimos 10 anos. Vire a página para saber por quê.
REDE DE INFLUÊNCIA
Como as características e atitudes dos seus amigos mexem com você.
OBESIDADE
Um
estudo feito na Universidade Harvard prova que não basta vigiar a
balança - fique de olho também nos seus amigos. Eles têm uma
influência enorme sobre o seu peso.
• Se o seu
amigo é obeso: +45% risco para você
• Se o
amigo do
amigo é, seu risco aumenta em 20%
• Se o obeso é o
amigo do
amigo do
amigo, o risco aumenta 10%
• Se é o esposo/a, 37%
TABAGISMO
Os
pesquisadores também estudaram a maneira como o hábito de fumar se
espalhava por um grupo de pessoas conectadas através do tempo, e
descobriram que:
• Se um
amigo seu começa a fumar, o seu risco de se tornar fumante aumenta 61%
• Se o
amigo de um
amigo vira fumante, o risco aumenta 29%
• Se o
amigo do
amigo de um
amigo fuma, o risco cresce 10%
FELICIDADE
Ela também se espalha pelas redes de amigos. Mas (infelizmente), com menos intensidade.
• Se um
amigo está feliz, a sua felicidade aumenta em 15,3%
• Se o
amigo de um
amigo está feliz, a sua felicidade cresce 9,8%
• Se o
amigo do
amigo do
amigo está feliz, seu bem-estar aumenta 5,6%
• Se é o esposo/a, 8%